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terça-feira, 18 de novembro de 2025

Exposição laboral ao herbicida glifosato no Mato Grosso

 Por Angelo Zanaga Trapé (foto), Professor-doutor aposentado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp) e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)

O produto glifosato utilizado nas lavouras de soja em diversas regiões do Mato Grosso, assim como em outras regiões do país e de vários países — sendo devidamente registrado pelas agências reguladoras — vem sendo sistematicamente apontado como possível causador de efeitos adversos na saúde de agricultores expostos ao produto.

Recentemente ocorreu uma audiência pública no Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso, em Cuiabá, tratando justamente da exposição laboral ao glifosato e dos possíveis riscos para a saúde dos trabalhadores. As apresentações incluíram profissionais de diversas áreas, entre eles toxicologistas com ampla experiência sobre o comportamento do glifosato no meio ambiente e sua segurança quando utilizado de acordo com as orientações técnicas.

Apesar das demonstrações sobre a segurança do uso do glifosato e da manutenção do registro do produto pela ANVISA, as considerações dos membros do colegiado não foram conclusivas sobre se a exposição laboral ao herbicida poderia ou não causar efeitos à saúde dos agricultores.

Com o objetivo de contribuir para essa análise, é apresentado o único estudo científico realizado com agricultores expostos ao glifosato em um município da região Meio-Norte de Mato Grosso, no período de 2017 a 2018:

1. Estudo da Unicamp em Nova Mutum (MT) — 2017–2018

Título do artigo: Determination of Glyphosate in human urine from farmers in Mato Grosso-BR

Equipe de pesquisadores

  • Prof. Dr. Angelo Zanaga Trapé — médico toxicologista

  • Prof. Dr. Paulo César Pires Rosa — químico e farmacêutico

  • Karolyne Gramlich de Melo — mestranda em Farmacologia

Instituição

Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp

Local

Nova Mutum (MT)

Metodologia

  • Coleta de 90 amostras de urina de trabalhadores rurais expostos ao glifosato

  • Análise por cromatografia líquida com detecção por fluorescência (HPLC-FL)

  • Limite de detecção: 0,34 ng/mL

  • Limite de quantificação: 1,15 ng/mL

Resultados

  • Apenas 12% das amostras apresentaram traços de glifosato durante a aplicação.

  • Nenhuma amostra ultrapassou os limites permitidos pela ANVISA.

  • Amostras coletadas antes e dias depois da aplicação foram negativas para presença do herbicida no organismo.

Conclusão

O estudo indicou baixo risco toxicológico, desde que o glifosato seja utilizado conforme recomendações técnicas de segurança.

2. Dissertação de Mestrado — Karolyne Gramlich de Melo (2018)

Título

Determinação de glifosato em amostras de urina humana pela derivatização com cloroformato de 9-fluorenilmetilo

Orientador

Prof. Dr. Paulo César Pires Rosa

Instituição

Unicamp

Objetivo

Desenvolver e validar um método analítico sensível para detecção de glifosato em urina humana.

Resultado

Método considerado eficaz e sensível para monitoramento de exposição ocupacional.

Este estudo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, gerou uma dissertação de mestrado e está publicado no periódico científico IAJMH — Interamerican Journal of Medicine and Health.

Pesquisas desse tipo, utilizando marcadores biológicos de exposição, são essenciais para obter dados concretos sobre a absorção de pesticidas — como o glifosato — por trabalhadores rurais, permitindo avaliar se a exposição laboral pode resultar em efeitos agudos ou crônicos, desde que consideradas as orientações técnicas corretas de aplicação.

Sobre o CCAS

O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicílio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto. 

O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.  

Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas. 

A agricultura, por sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. Não podemos deixar de lembrar que a evolução da civilização só foi possível devido à agricultura. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa, assim como a larga experiência dos agricultores, seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/

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